Ela levantou-se por volta das 09h00horas, com seus longos cabelos loiros ainda bagunçados depois da noite de sono. Tomou um banho, preparou o café da manhã e foi até o armário. Abriu a porta. Seu arco estava lá, do mesmo jeito que havia deixado da última vez que voltara do treino. Pegou uma mochila e colocou tudo dentro dela, de forma paciente. Trancou as janelas e a porta e saiu de casa.

Desceu do ônibus e foi caminhando até o ginásio da escola, que ficava 600 metros à frente. Uma garota, de cabelo vermelho fogo e um sobretudo preto, esperava-a, parada na entrada, sentada ao lado de uma catana, com o cabo feito de um tecido vermelho reluzente, que lembrava muito o fios na cabeça da adolescente. Seus olhos estavam abaixados, mas com certeza não dormia.

– Você está atrasada – O tom de voz da ruiva era severo.

– Eu sei, eu sei. Acabei dormindo demais... E você devia parar de controlar na minha vida, não acha? – A amiga sempre fora mandona, mas isso nunca havia atrapalhado a amizade.

– Não! Pelo menos até você aprender a cuidar de si mesma. Agora, vamos entrar logo antes que eu perca o resto do treino – Adentram o portão e seguiram pelo hall em silêncio. O ginásio possuía quatro divisões, que separavam os clubes de arco e tiro, que ficavam no fundo do ginásio e ocupavam uma parte ao ar livre, e os de quendô e luta, logo na entrada.
– Até daqui a pouco, Elesis.

– Até. Vá me ver treinando antes de ir embora.

Lire entrou no compartimento que pertencia ao clube do qual fazia parte e colocou o equipamento. Abriu a porta ao fundo da sala e saiu para a área coberta, onde ficavam os alvos, que por padrão estava a 150 metros de distância. Gostava de treinar aos sábados porque não tinha ninguém lá, assim ela podia aproveitar o silêncio, e ouvir o som do vento para calcular a força, velocidade e direção.

Preparou a primeira flecha. Olhou fixamente para o alvo. Sentiu o vento vindo do oeste, estava fraco, então julgou que não interferiria. Fechou um olho. Mirou. E atirou. A flecha percorreu todo o caminho com uma velocidade assustadora, mesmo assim, ela havia errado. Poucos centímetros de distância separavam o círculo vermelho do local onde a flecha tinha perfurado. Droga, estou sem prática. O campeonato municipal estava se aproximando e não sentia-se pronta.
Apontou novamente para o alvo. Repetiu o mesmo ritual e... Parou. Estava nervosa. Descansou o braço. Levantou a cabeça. Mirou. E atirou... Dessa vez a flecha havia ido parar no local certo e Lire permitiu-se sorrir. Fez isso por pelos menos uma hora, até que decidiu encerrar o treino e ir ver como estavam às coisas na sala de quendô.

Elesis enfrentava um cara mais velho, de longos cabelos e olhos azuis escuros, que Lire reconheceu na hora. A ruiva estava concentrada, mesmo assim parecia ter dificuldade em enfrentar o rapaz. Elesis moveu a espada na horizontal num movimento rápido, mas foi bloqueada rapidamente fazendo com que deixasse uma brecha se abrisse do seu lado esquerdo. Com um salto para trás havia conseguido desviar do feroz ataque que sofrera, mas acabou tropeçando e caindo. O garoto se aproximou e estendeu a mão para ela se levantar.

– Devo me preocupar com o fato de você estar quase me derrotando? – Falou, enquanto Elesis segurava sua mão e se erguia.

– Você já não estava preocupado? – Os dois pararam um de frente para o outro, por alguns instantes. Lire podia ver que ele gostava de sua amiga.

– Ei, oi Loira! Já faz um tempo – O garoto tinha razão. Fazia alguns meses que ela não ia observar o treino de Elesis.

– Eu já te disse que não gosto que me chamem assim, Ronan – Ela realmente odiava isso, talvez por esse motivo ele continuasse a chama-la deste jeito. Sua atenção voltou-se para a amiga. – Elesis, vamos agora?

– Ah, pode ir primeiro, ainda tenho que treinar mais para as regionais – Ela sabia muito bem que aquilo não era verdade, mesmo assim, resolveu ir caminhando.

Quando saiu do ginásio, uma chuva forte começou a cair. Devia ter continuado lá, mas agora, se for para voltar, prefiro ir andando. As gotas de chuva já escorriam pelo seu rosto, e sua roupa já estava bastante molhada. Estava há uns trezentos metros do ponto de onibus quando de repente a água cesou apenas em cima de sua cabeça. Olhou para cima e percebeu que havia um guarda-chuva preto sobre ela.

– Você não devia andar assim na chuva, pode acabar ficando doente – Aquela voz fez com que Lire se surpreendesse. Num movimento brusco, virou-se... e escorregou. Antes de chegar ao chão, Lass agarrou sua mão e trouxe-a para perto de si, fazendo com que ficassem muito próximos um do outro. Ambos ficaram vermelhos.